1 de abr. de 2010

Quem é meu próximo?

E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas?
A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.
Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo?
Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.
Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?
Respondeu-lhe o intérprete da Lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo.
”    (Lucas 10.25-37)
O Senhor, nesta parábola, inverte a pergunta sem, de fato, respondê-la. O interprete da Lei lhe perguntou “Quem é o meu próximo?” mas Jesus lhe sugere refletir como se a questão fosse “De quem eu sou o próximo?”
Normalmente queremos ver nesta parábola, o samaritano como “bom”, e o homem ferido como sendo o próximo. Na verdade, a parábola conclui dizendo que o próximo é o Samaritano, ou seja, aquele que faz o que o outro necessita – aquele que age com misericórdia.
A pergunta original, “Quem é o meu próximo?” é irrelevante, de acordo com o narrador da parábola. Importa antes saber  “De quem sou o próximo?”, ou seja não se trata de buscar critérios para definir o próximo, mas de estarmos atentos em sermos o próximo para quem necessitar!
Assim, o “meu próximo” é aquele que me acolhe, me estende a mão, busca atender à minha necessidade. A esse devo amar como a mim mesmo porque ele me amou primeiro quando deixou de lado a sua vida para cuidar da minha por um momento.
O Mandamento do Amor é absoluto: tenho de amar todas as pessoas, e as amo sendo para elas o próximo. Mas o “amor ao próximo” , que no resumo da Lei está ao lado do “amor a Deus” é o amor reconhecido, de gratidão, tal como deve ser o amor a Deus. Deus toma a iniciativa do amor, do amor misericordioso, amando-me na condição em que me encontro;  assim, o próximo – que toma a iniciativa de socorrer-me, age como espelho do amor divino, o amor misericordioso. Por isso o amor ao próximo está associado ao amor a Deus. Amo a Deus como gratidão pela sua misericórdia, amando a todas as pessoas; amo o próximo, também por gratidão, porque o próximo – aquele que age por misericórdia – me recorda o amor de Deus, o próximo se torna um sinal concreto do amor de Deus.
O amor de Deus me inspira a misericórdia que devo ter para com todos; o amor misericordioso do meu próximo se torna sinal desse amor divino e me inspira a ser o próximo para quem necessita. A parábola contraria a lógica da máscara do avião (ver postagem anterior).

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6 comentários:

  1. Brilhante, Maninho! Nunca tinha lido com esse enfoque! Bjs.

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  2. Viu? vc voltou a ser criativo na pregação! Que bom, querido! Adorei essa visão da Parábola! Também nunca a tinha visto sob tal ângulo! Realmente me faz pensar e reavaliar minha maneira de olhar as pessoas!

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  3. Vejo que percebestes bem a sutileza da parábola. De facto, importa antes ser o próximo do que avaliar quem seja o meu.

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  4. Olá Reverendíssimo Mestre!!!
    Lindo, profundo e maravilhoso post.
    Como sempre: PARABÉNS!
    Posso publicar no CIRCULO TEOLÓGICO?
    Abçs e Paz!

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  5. Faz-me pensar em atitudes coerentes nas relações humanas, onde torno-me o agente do amor divino. Isto é muito profundo e provocador.

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  6. Importante essa abordagem, porque muda o fóco da questão.

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