11 de fev. de 2016

Durante o Carnaval em Santa Teresa, Rio de Janeiro.

Ilhado em Santa Teresa durante os intermináveis dias de carnaval (hoje é quinta-feira, já é Quaresma, mas um bloco anda por aqui enchendo o saco desde a madrugada!), com dificuldades para sair do bairro ou mesmo caminhar por ele, andei pela vizinhança; estou compartilhando um pouco do que vi e ouvi aqui pelas ruas próximas de casa.

1. "Si divertir"
Um bando de patricinhas e mauricinhos, tipo Leblon/Barra, por volta de uma da madrugada, ao lado de um Honda Civic cinza, com auto-falantes daqueles dignos de um Teatro Municipal, tocando aquelas músicas ridículas que incentivam a baixaria, quase aqui na esquina de casa. Fui lá pedir que abaixassem o som, uma moça mais pra nua que pra vestida, me diz:
_ "Todo mundo tem o direito de si divertir!"
_ " Mas sem incomodar os outros, mocinha!"
Um sujeito com cara de quem tinha tomados umas e muitas, e os olhos de quem tinha dado uma boa cheirada, me encarou feio e me mandu tomar lá no fundo da casa da Mãe Joana. Voltei pra casa (a minha, não a da mãe Joana), e usando da tecnologia modernosa, mandei um "zap-zap" para a PM, que veio rapidamente e acabou com o direito de "si divertir" dos babacas.

Uma coisa legal que a PM (5º Batalhão) fez aqui para Santa Teresa foi disponibilizar um celular e grupo no "zap-zap" para os moradores denunciarem todo tipo de delinquência, arruaça, assalto, etc. Um oficial fica de plantão recebendo as denuncias e toma as providências necessárias. Mais eficiente e eficaz que o "1-9-0", onde a atendente nos manda ir ao local e aguardar a polícia (como se bandido, assaltante e outros pentelhos fossem ficar ali esperando comigo a PM chegar).

2 .  Mijões
a) No jardim da igreja, surpreendo um sujeito urinando. Chamei sua atenção, ele me disse:
_ "Eu tenho o direito de mijar, pô"!
_ "Não no jardim da igreja, cara!"
Ele saiu, ainda apertado, virou a esquina da igreja eu fui atrás... lá estava ele dando a sua mijada!
_ "Nem no muro da Igreja, amigo!"
_ "Pô! nessa m... de bairro não tem onde mijar!"
b) Saio no portão de casa para um cigarrinho, e vejo uma moça agachada, urinado, ao lado do muro da igreja e tentando se ocultar atrás de um carro estacionado (na calçada).
_ "Menina! não faça isso! respeite você mesma!", eu disse virando o rosto para não constrangê-la mais.
A resposta dela foi idêntica à do mijão acima: 
_"Não tem outro lugar e estou apertada, padre".

Realmente, ambos tinham razão. Aliás, não só em Santa Teresa! a maioria dos botecos e lanchonetes no Rio não têm banheiro, e quando tem ou cobram para usar (se não for cliente - inclusive idosos) ou não deixam usar (alegam que é para evitar do sujeito ir lá para dar uma cheirada de pó ou fumar uma maconha).
A eficientíssima  Prefeitura do Rio, que está a serviço das máfias do transporte público, das empreiteiras e da industria do turismo, colocou pouquíssimos banheiros químicos pelas ruas da cidade, especialmente onde passariam os blocos carnavalescos. E, para completar, decretou uma multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) para quem fosse flagrado urinando em logradouro público, pela Guarda Municipal (que aliás, nunca aparece por aqui a não ser para ... deixa pra lá!). Ou seja: "como o consumo de cerveja é astronômico e as bexigas milhares, vamos faturar um pouco porque é ano eleitoral e o Partido precisa de grana para as negociatas naturais em busca de votos..."

3. A rua é de quem mesmo?
Um bando de "foliões", enchendo a cara de cerveja e comendo croquete de bacalhau, sentados na calçada quase na esquina de casa. Para alguém passar por lá, tinha de se deslocar para a faixa de tráfego, porque a calçada havia se tornado a sala de estar dos idiotas. [Aliás, é comum isso por aqui: o pessoal ocupa as calçadas e os pedestres que se misturem aos carros; ficam em pé ou sentados e se você quiser passar ainda te olham feio! isso sem contar quando os botecos ocupam descaradamente as calçadas com mesas e chegam até a colocar cerca na rua - o que é comum na Lapa - para ninguém atrapalhar os clientes que saboreiam seus quitutes (e enchem a cara)!]
Eu estava indo ao Cine Santa  (assistir A Grande Aposta - recomendo) e tentei passar pela calçada; eu disse, para as pessoas sentadinhas com seus croquetes de bacalhau e sua cervejinha, que ali não era lugar de sentar,  e alguém do grupo me disse:
_ "A rua é do povo!"
_ "Pode ser lá na sua rua, amigo, mas aqui, a rua é dos seus moradores e de quem precisa passar por ela!"
O cara disse "passa por cima" e novamente fui recomendado a mandar lembranças à Mãe Joana (e ainda recebi uma encarada do dono do boteco ao lado, afinal eu estava chateando seus clientes). Então, a caminho da casa da Mãe Joana (passando antes pelo Cine Santa), segui em frente, passei por cima da perna de um deles e "sem querer" pisei de leve no pratinho de croquete... pois é, a rua é do povo! e eu sou um cara do povo que tem o corpo um pouco mais largo que o normal! Claro que ouvi belíssimas palavras de elogio à minha modesta pessoa, além de ameaças à minha integridade física.
É mole?
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Não sou contra o carnaval, nem que as pessoas busquem diversão, comam seus bolinhos de bacalhau, tomem sua cervejinha. Mas eu acho que as coisas tem um limite, o limite do bom senso e da boa educação.

Entretanto, nestes tempos de "direitos sem deveres", de manifestação exacerbada dos egos, e da autopromoção para lembrar a si mesmo que existe, o que vale mesmo é a já famosa frase "danem-se os outros!"

Mas, felizmente, ainda há pessoas com quem vale a pena conviver, partilhar e conversar. Apesar de tudo, Deus seja louvado. Amém!

PS: soube agora, pelo eficaz  sistema de informações de Santa Teresa - boca-a-boca, de vizinho pra vizinho - que o tal bloco que chateou o bairro desde a madrugada foi liquidado pela Polícia...

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